John Watson

A biografia de John Watson começa com seu nascimento em um sítio próximo a Greenville, na Carolina do sul, onde frequentou os primeiros anos de estudo em uma escola que possuía apenas uma sala. Sua mãe era extremamente religiosa, ao contrário do pai. O velho John Broadus Watson bebia muito, era violento e mantinha muitas relações extraconjugais. Ele raramente conseguia manter um emprego fixo, por isso a família vivia a beira da pobreza, subsistindo à custa da produção de sítio. Alguns vizinhos os desprezavam, enquanto outros sentiam pena deles. Quando John Broadus Watson estava com 13 anos, seu pai fugiu com outra mulher e nunca mais voltou. John Broadus Watson jamais o perdoou por isso, e anos mais tarde, quando se tornou rico e famoso, seu pai foi procurá-lo em Nova York, mas John Broadus Watson não quis vê-lo.

Na infância e na adolescência, John Broadus Watson era descrito como delinquente. Ele mesmo se dizia preguiçoso e desobediente, e suas notas na escola eram apenas suficientes para passar de ano. Os professores consideravam-no indolente, sempre propenso a discussões e, às vezes incontrolável. Duas vezes envolveu-se em brigas e foi preso, em uma das ocasiões, por atirar dentro dos limites urbanos. Contudo, 16 anos matriculou-se na Furman University, em Greenville, afiliada a igreja Batista, disposto a tornar-se pastor, como prometera à mãe. Estudou filosofia, matemática, latim e grego, planejando entrar no seminário teológico depois de se formar em Furman.

John Broadus Watson ficou mais um ano em Furman, completando o mestrado em 1899, mas nessa data sua mãe faleceu, ficando ele, assim, livre da promessa de tornar-se pastor. Em vez de ir ao seminário teológico, foi para a University of Chicago. Seu biógrafo observou que naquela época ele "era ambicioso, um homem extremamente consciente da importância do status social, ansioso por deixar sua marca no mundo, mas totalmente indeciso em relação à escolha da profissão e inseguro por causa da falta de recursos e de sofisticação social, chegou ao campus com apenas 50 dólares no bolso”.

Escolheu a University of Chicago para realizar o trabalho de pós-graduação em filosofia com o ilustre John Dewey, mas sentia dificuldades para entender as aulas. "Jamais compreendia o que ele estava falando", relembrou John Broadus Watson, "e, infelizmente para mim, até hoje não entendo". Como era de se esperar, o entusiasmo pela filosofia diminuiu. Atraído para a psicologia, John Broadus Watson, em função do trabalho do psicólogo funcionalista James Rowland Angell, John Broadus Watson estudou também biologia e fisiologia com Jacques Loeb, que lhe introduziu o conceito de mecanismo.

Em 1903, com 25 anos, completou o doutorado, sendo o mais jovem na história da University of Chicago a obter o título de Ph.D. Embora aprovado com louvor (magna cum laude e Phi Beta Kappa), sentiu-se profundamente inferiorizado quando Angell e Dewey lhe disseram que seu exame de doutorado não fora tão bom quanto o de Helen Bradford Thompson Woolley, que completara a graduação três anos antes.

Naquele ano, John Broadus Watson se casou com uma de suas alunas, May Ickes, de 19 anos, pertencente a uma importante família do meio político e social. Contam que ela escreveu um longo poema de amor para John Broadus Watson em um de seus exames. Não se sabe a nota que ela obteve, mas sabe-se que obtivera John Broadus Watson.

Carreira acadêmica de Watson

     Watson permaneceu na Univercity of Chicago como professor até 1908. Publicou a dissertação sobre a manutenção psicológica e neurológica do rato branco, pesquisa que revelava sua preferência inicial pelo uso de animais nas pesquisas.

    "Nunca quis usar seres humanos nas minhas pesquisas. Detestava servir de cobaia. Não gostava daquela parafernália de instruções artificiais dadas às pessoas. Sempre me sentia incomodado e não agia com naturalidade. Com os animais, no entanto, sentia-me em casa. Percebia que, observando-os, conseguia me manter próximo da biologia e com os pés no chão. Aos poucos, a idéia se concretizava: será que minhas descobertas observando o comportamento dos animais não são iguais às dos demais alunos que observavam os [seres humanos]?"

   Os colegas de Watson lembram-se de que ele não conseguia obter êxito com introspecção.
Qualquer que fosse o talento e o temperamento necessários para utilizar adequadamente essa técnica, Watson não os possuía. Essa deficiência talvez o tenha direcionado para a psicologia behaviorista objetiva.Afinal, se ele era uma negação na utilização da introspecção, de pesquisa fundamental na sua área, então suas perspectivas profissionais certamente estavam prejudicadas. Ele teria de buscar outra abordagem. Além disso, caso seguisse sua tendência de enxergar a psicologia como uma ciência que estudava apenas o comportamento o que evidentemente era possível de ser feito mediante experiências com animais e com seres humanos, ajudaria a atrair os interesses profissionais dos psicólogos animais para a psicologia geral.


   Em 1908, recebeu uma proposta para lecionar na Johns Hopkns University, em Balti more. Embora relutasse em deixar Chicago, a promessa de promoção, o aumento substancial no salário e a chance de se dirigir o laboratório não lhe deixarão outra opção. E assim, os 12 anos de Watson na Hopkins acabaram sedo os mais produtivos para a psicologia.


   James Mark Baldwin (1861-1934), o psicólogo que lhe havia oferecido o emprego, era um dos fundadores (juntamente com James McKeen Cattell) da revista Psychological Review. Um ano depois da chegada de Watson à Hopkins, Baldwin foi obrigado a pedir demissão por causa de um escândalo. Em uma batida policial, fora flagrado em uma casa de prostituição. O reitor da universidade não aceitou as explicações de Baldwim. Ele alagou ter"aceitado ingenuamente uma sugestão, feita depois de um jantar, para conhecer [o bordel]. Antes de chegar ao local, não sabia que ali trabalhavam mulheres indecentes"(apud Evans e Scot, 1978, p. 713).Mas deu um nome falso para a polícia. Baldwim foi totalmente banido da americana, passando o resto dos seus anos na Inglaterra e no México, morrendo em Paris em 1934. Onze anos depois da demissão de Watson por causa de um escândalo.

   Quando Baldwim pediu demissão, Watson tornou-se o responsável pelo departamento de psicologia e editor da importante Psychological Review.Assim, aos 31 anos, tornaram-se uma figura importante da psicologia americana, no lugar certo, na hora certa. Era extremamente querido pelos alunos da Johns Hopkins University, que costumavam lhe dedicar o anuário estudantil e elegê-lo como melhor professor, certamente uma honraria ímpar na história da psicologia. Ele continuava ambicioso e dedicado. Muitas vezes, com medo de perder o controle, chegava à exaustão.

   No início da carreira na Hopkins, Watson propôs estudar os efeitos, tanto positivos como negativos, do álcool e dos filmes de educação sexual nos adolescentes. A administração da universidade não acolheu muito bem essa idéia. Consideraram a pesquisa arriscada e insistiram para que ele parasse. Felizmente, Watson possuía outras válvulas de escape para sua energia e ambição.

   Ele começou a pensar seriamente a respeito do tratamento mais objetivo da psicologia por volta de 1903, e expressou essa opinião publicamente em 1908, em palestra na Yale University e em um trabalho apresentado na reunião anual em Baltimore, da Southern Society for Philosophy and Psychology (Sociedade sulista de Filosofia e Psicologia). Watson argumentava que os conceitos psíquicos e mentais não serviam de nada para uma ciência como a psicologia. Em 1912, a convite de Cattell, apresentou uma série de palestras na Columbia University. No ano seguinte, publicou um artigo, que mais tarde ficou famoso, na revista Psycological Review, assim lançando oficialmente o behaviorismo.

   O livro de Watson, Behavior: an introduction to comparative psycology, foi lançado em 1914. Defendia a aceitação da psicologia animal e descrevia as vantagens do uso de animais na pesquisa psicológica. Muitos psicólogos mais jovens e estudantes de pós-graduação consideraram interessantes as propostas de uma psicologia comportamental, afirmando que Watson estava limpando a atmosfera poluída da psicologia, expulsando os mistérios de longa data herdados da filosofia.

   Mary Cover Jones (1896-1987), na época aluna de pós-graduação e, mais tarde, Presidente da Divisão de Psicologia do Desenvolvimento da APA, lembrou-se do entusiasmo com que era recebida a publicação de cada um de seus livros. “[O Behaviorismo de Watson] abalou as estruturas da psicologia tradicional nascida na Europa, e nós o recebemos de braços abertos. (...) Esse behaviorismo indicou o caminho da psicologia teórica para a ação e para a reforma e foi, por essa razão, saudado como uma panacéia”. O programa de Watson geralmente não seduzia os psicólogos mais antigos. Ao contrário, a maioria rejeitava a sua abordagem.


   Somente dois anos após a publicação do artigo na Psycological Review, Watson foi eleito presidente da APA. Sua eleição talvez não fosse um sinal de aprovação oficial da sua posição, mas servia como reconhecimento da sua notoriedade e da rede pessoal de relações estabelecidas com diversos psicólogos romanos.

   Watson desejava que o novo behaviorismo tivesse valor prático; suas idéias não serviam apenas para serem aplicadas nos laboratórios, como também na vida real. Promoveu as especializações aplicadas da psicologia e torno-se consultor pessoal de uma grande companhia seguradora. Além disso, oferecia cursos de psicologia aplicada à publicidade aos alunos de administração da Hopkins e deu início a um programa de treinamento de estudantes de pós-graduação para trabalharem na área da psicologia industrial.

   Durante a primeira Guerra Mundial, Watson serviu no exército americano, com a patente de major, desenvolvendo testes de habilidade perspectiva e motora para usar como esquema de seleção para pilotos. Também pesquisou o efeito da redução de oxigênio sobre os pilotos em altitudes elevadas. Depois da guerra, Watson e um médico criaram a industrial Service Corporation para oferecer serviços de seleção de pessoal e consultoria de administração no mundo empresarial (DiClemente e Hantula, 2ooo).

   Embora suas atividades estivessem relacionadas com as áreas da psicologia aplicada, a visão de Watson concentrava-se no desenvolvimento da abordagem behaviorista do pensamento psicológico.Em 1919, publicou o livro Psychology from the standpint of a behaviorist, dedicando-o a catell.

   O livro apresentava uma abordagem mais completa da sua psicologia behaviorista, além do argumento de que os métodos e princípios recomendados para a psicologia animal também eram adequados para o estudo do ser humano.


   Enquanto isso o seu casamento se deteriorava; sua infidelidade deixava a esposa furiosa Watson escreveu a Angell, dizendo que Mary não ligava mais para ele. “Ela instintivamente abomina o meu toque (...) Será que arruinamos as nossas vidas?”. Ele estava prestes a arruinar a sua ainda mais.

   Watson apaixonara-se por Rosallie Rayner, uma assistente da pós-graduação, com metade da sua idade, e pertencente a uma rica família de Baltimore que fizera generosa doação para a universidade. Watson escrevia cartas, cientificamente falando, ardentes de paixão, 15 das quais encontradas pela esposa. Durante o escandaloso processo de divórcio, trechos das cartas eram publicadas no jornal Baltimore Sum.

   “Cada célula do meu corpo a ti pertence, individual e coletivamente. Todas as minhas razões são positivas e todas são pra ti. Assim como cada uma e todas as reações do coração. Não posso ser mais teu do que sou, mesmo que uma cirurgia nos transformasse em um único ser”.

   Assim chegava ao fim a carreira acadêmica de Watson, sendo forçado a demitir-se da Johns Hopkins. Seu biógrafo disse: “Watson ficou chocado. Até o final, recusava-se a acreditar que realmente seria demitido. (...) Acreditava piamente que sua estrutura profissional lhe proporcionaria imunidade a qualquer censura a respeito da sua vida pessoal”. Embora tenha se casado com Rosalie Rayner, nunca mais pôde assumir integralmente outra posição acadêmica. Nenhuma universidade o aceitava por caos da má reputação, e ele logo percebeu que teia que começar uma nova vida. “Posso arrumar um emprego na área comercial”, disse um amigo. “Mas, sinceramente, amo o meu trabalho. Sei da sua importância para a psicologia e que a pequena chama que tentei manter acesa para o futuro da psicologia se extinguirá, caso eu a abandone”.

    Muitos colegas acadêmicos, inclusive o seu mentor Angell, da University of Chicago, criticaram publicamente Watson, que se ressentiu da falta de apoio, chegando a acusá-los de deslealdade. Ironicamente, considerando as diferenças radicais de temperamento e de posições teóricas, foi E. B. Titchener, da Cornell University, quem lhe deu apoio emocional durante a sua crise pessoal.


Fondo do Artigo: Site psicoloucos.com