Carl Rogers

Carl Rogers nasceu em Oak Park, Illinois, em um bairro afastado de Chicago. Seus pais adotavam visões estritamente fundamentalistas que, nas palavras de Rogers, mantiveram-no reprimido por toda a infância e adolescência. Suas crenças religiosas e a eliminação de qualquer expressão emocional forçaram-no a viver sob um código que não via como seu. Disse, mais tarde, que essas restrições deram-lhe motivos para a sua revolta, embora a rebeldia tenha demorado a chegar.

 


   Era uma criança solitária que lia muito. Acreditava que o irmão mais velho era o preferido dos pais. Resultado: Rogers sentia-se em constante disputa com o irmão. A solidão o levou a depender das próprias experiências, mas, mesmo assim, não conseguia se libertar das crenças dos pais. Quando estava com 12 anos, a família mudou-se para uma fazenda, onde Rogers desenvolveu um forte interesse pela natureza.

 

   Lia sobre as experiências agrícolas e sobre a abordagem científica na solução dos problemas. Embora a leitura o ajudasse a canalizar a vida intelectual, sua vida emocional estava em constante turbulência. Ele afirmou: “Minhas fantasias durante esse período eram realmente bizarras e provavelmente seriam classificadas como esquizofrênicas por um especialista, mas felizmente jamais tive contato com um psicólogo” (Rogers, 1980, p.30).

   


   Aos 22 anos, durante uma conferência estudantil cristã realizada na China, finalmente se libertou do código fundamentalista dos pais e adotou uma filosofia de vida mais liberal. Convencera-se de que as próprias pessoas deviam dar rumo às suas vidas com base na própria interpretação dos acontecimentos e não dependerem da visão dos outros. Convencera-se, ainda, de que cada um deve empenhar esforços para se tornar uma pessoa melhor. Esses conceitos tornaram-se a base da sua teoria da personalidade.


   Rogers recebeu o Ph.D em psicologia clínica e educacional, em 1931, da Teacher College da Columbia Universit. Permaneceu nove anos na Society for the Preventiom of Cruelty to Childrem (Sociedade para a Prevenção da Crueldade contra a Criança), trabalhando com jovens delinqüentes e desprivilegiados. Em 1940, iniciou a carreira acadêmica, lecionando na Ohio State University of Chicago e University of Wisconsin. Durante esses anos, desenvolveu e aprimorou a sua teoria e o seu método de psicoterapia.


   É importante ressaltar que as experiências clínicas de Rogers, durante a época em que desenvolvia a sua teoria, foram realizadas em sua maior parte com os estudantes universitários do centro de aconselhamento. Dessa forma, o tipo de pessoa tratada consistia basicamente de jovens inteligentes e extremamente comunicativos. Os problemas, em geral, estavam relacionados com questões de ajuste e não de distúrbios emocionais graves. Essa população de pessoas era bem distinta daquela tratada por Freud ou por outros psicólogos clínicos de consultórios particulares. 

 

   Entre 1949 e 1951, Carl Rogers atravessa um período de profundo sofrimento, pois, após ter vivido momentos de extrema dificuldade no processo psicoterapêutico de uma paciente esquizofrénica, passa por um período de depressão afectando a sua capacidade de trabalho e de funcionamento. Finalmente, aceita a ajuda de um dos seus discípulos, Ollie Bown, com quem faz uma psicoterapia pessoal, experimentando nele mesmo a eficácia do seu modelo, o que lhe proporcionou um longo percurso de "crescimento" pessoal que nunca mais o abandonou.

 

A Auto-Realização de Rogers

 

   A maior força motivadora da personalidade é o impulso para a realização do self (Rogers, 1961). Embora essa ânsia pela auto realização seja inata, pode ser incentivada ou reprimida por experiências da infância e por aprendizagem. Rogers enfatizava a importância da relação entre mãe e filho por ela afetar no senso de self em evolução na criança. Se a mãe satisfaz a necessidade de amor do bebê, que Rogers chamou de *atenção positiva, ele provavelmente tera uma personalidade saudável.


   Se a mãe condiciona o amor pelo filho a um comportamento adequado (atenção positiva condicional), ele internalizará essa atitude e desenvolverá condições de valor. Nesse caso, a criança se sentirá valorizada somente sob determinadas condições e tentará evitar comportamentos considerados reprováveis. Consequentemente, a noção de si mesma não se desenvolverá plenamente. A criança não será capaz de expressar todos os aspectos de si própria porque aprendeu que alguns desses comportamentos produzem rejeição.

 

   Desse modo, o principal requisito para o desenvolvimento da saúde psicológica é a atenção positiva incondicional na infância. O ideal seria que a mãe demonstrasse o amor e a aceitação à criança, independentemente do seu comportamento. A criança que recebe atenção positiva incondicional não desenvolve condições de valorização e assim não terá de reprimir nenhuma parte emergente de si. Somente dessa maneira a pessoa eventualmente é capaz de obter a auto-realização.

 

   A auto-realização consiste no mais elevado nível da saúde psicológica. O conceito de Rogers é semelhante, em princípio, ao de Maslow, embora ambos divirjam em algumas características das pessoas psicologicamente saudáveis. Para Rogers, as pessoas plenamente funcionais ou psicologicamente saudáveis apresentam essas características:

 

.   Mente aberta  para aceitar qualquer tipo de experiência e novidades;
.   Tendência a viver plenamente cada momento;
.   Capacidade para se orientar pelos próprios instintos e não pelas opiniões ou razões de outras pessoas;
.   Senso de liberdade em pensamento e ação;
.   Alto grau de criatividade; e
.   A necessidade contínua de maximizar o seu potencial.

 

   Rogers descrevia as pessoas plenamente funcionais como sendo realizadoras e não realizadas, para indicar que a evolução do self está em constante andamento. Essa ênfase na espontaneidade, na flexibilidade e na capacidade contínua de crescimento está perfeitamente expressa no título do livro mais famoso de Rogers: On becoming a person (1961).

 

Comentários

 

   A psicoterapia centrada na pessoa de Rogers provocou grande impacto na psicologia. Sua teoria da personalidade foi igualmente bem recebida, especialmente devido à ênfase na importância do próprio indivíduo. Os críticos salientavam a falta de especificidade acerca do potencial inato de auto-realização e a aceitação das experiências conscientes subjetivas excluindo as influências inconscientes. A teoria e a terapia geraram muita pesquisa de apoio e são amplamente empregadas nos ambientes clínicos.

 

   Rogers foi influente no movimento do potencial humano da década de 1960 e em parte da tendência geral de humanização da psicologia. Foi eleito presidente da APA em 1946 e recebeu o Prêmio de Destaque pela Contribuição Científica e de Destaque Profissional.