Conceitos da Psicologia Ambiental e seus Objetos de Estudo

24/07/2014 20:10

 

Morval (2007, p.23) diz que a "Psicologia Ambiental, se desenha gradualmente como sendo oestudo das trocas entre as pessoas, osgrupos e o meionatural, social e construído". Wiesenfeld (2005, p. 54)define como "a disciplina que estuda as transações entre as pessoas e seus entornos, com vistas a promover uma relação harmônica entre ambos, que redunde no bem-estar humano e na sustentabilidade ambiental". Pode-se concluir que o foco principal de estudo da Psicologia Ambiental é a influência da pessoa para o ambiente e vice-versa, visando melhores condições de vida, sendo assim confirmado pela equação de Kurt Lewin, criador dos termos ecologia psicológica e espaço vital, C = f (P x A), onde o ambiente (A) determinando o comportamento (C) é confrontado pela constante interação (x) entre pessoa (P) e ambiente, influenciando-se mutuamente.

Bowlby (1990) explica que para considerar a estrutura de um sistema, o meio ambiente em que ele funciona também deve ser considerado, pois o homem possui grande capacidade para modificar seu ambiente e ajustá-lo às suas necessidades, transformando em ambiente subjetivo, ele se adapta e faz adaptações, modifica o ambiente. Tassara e Rabinovich (2003, p. 340) comentam sobre um dos objetos da discussão entre os interessados pela área, dizendo que:

O ambiente objetivo não é o ambiente do sujeito, mas o substrato de como o ambiente vai se tornar algo do sujeito. Trata-se de analisar a construção da subjetividade em seu aporte material: como, de que forma, porque o ambiente objetivo se constitui em ambiente subjetivo, o que não distingue, portanto, a PA da Psicologia Social.

Bronfenbrenner (1996) traz em sua Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano, uma classificação de ambiente ecológico dividido em quatro sistemas, com um enfoque psicossocial, no qual o homem se relaciona e evolui: no microssistema as relações interpessoais são dadas face-a-face, a pessoa é participante e possui papéis sociais (casa, escola, trabalho); o meso e exossistemas consistem nos processos que ocorrem entre dois ou mais contextos, sendo que no primeiro a pessoa está inserida em todos e no segundo, ao menos em um deles a pessoa em desenvolvimento não participa, mas sofre influências; o macrossistema comporta características dos sistemas mais amplos como, cultura, economia, educação, política, etc. e seus efeitos são indiretos, ou seja, se manifestam através das interações da pessoa nos vários microssistemas que circula.

Semelhante a definição de Bronfenbrenner, porém com uma visão mais espacial e social, Moser (2005) classifica o espaço, também em quatro níveis, sendo: nível individual ou micro-ambiente: residência, implicando o indivíduo; nível da vizinhança-comunidade ou ambientes de proximidade: espaços semi-públicos (bairro, local de trabalho, parques, etc.); nível indivíduo-comunidade ou ambientes coletivos públicos: cidades, espaços intermediários, povoamentos diversos; nível social ou ambiente global: ambiente em sua totalidade, construído ou não, os recursos naturais e os referentes à sociedade enquanto tal.

Altman (apud Morval, 2007), identificou três tipos de territórios que correspondem aos ambientes discutidos pelos autores acima, porém ele atribui um sentido de grau de intimidade e controle por parte do indivíduo em relação ao espaço: territórios primários, a casa ou escritório particular, personalizados de forma que revelam a identidade individual ou do grupo; territórios secundários, menos exclusivos como um barzinho que por vezes aparecem clientes estranhos aos usuários habituais; territórios públicos, espaços abertos como praias, parques, etc., proporcionam pouca intimidade. Classificações do ambiente como as citadas, tornam-se fundamentais para um planejamento teórico e melhor estudo da relação homem-ambiente, já que o ambiente propicia o sentido e a identidade, posicionando o indivíduo social, econômica e culturalmente.

E o indivíduo que a Psicologia Ambiental considera, segundo Bassani, Silveira e Ferraz (2003, p.1694), é "o ser humanoconcreto, com umahistória de vida, umcontexto cultural, dotadode cognição e afetos, com identidade social e individual", concordando com Bronfenbrenner (1996), que caracteriza a pessoa como organismo biopsicológico complexo, em crescimento e atuante, composto por um sistema integrado (cognição, social, afetividade, emoção, motivação) que interagem mutuamente. Assim, a Psicologia Ambiental não tem como objetivo a resolução dos problemas ambientais e sim a crise das pessoas no ambiente (PINHEIRO, 1997). Parafraseando Rodriguez (1997, p.27):

Una de las expresiones más equívocas en los discursos sobre la crisis ecológica es la de "problemas ambientales". En realidad se trata de "problemas-de-la-humanidad", y, por ende, del comportamiento humano. Son los comportamientos de las personas los que provocan un incremento de la gravedad de un problema ambiental; y es sobre la vida de las personas sobre las que influye la alteración de un parámetro ambiental.

Observando algumas definições sobre o ambiente e o indivíduo, conclui-se que um não existe sem o outro e por isso, torna-se importante analisar como o indivíduo percebe o ambiente que vive e como este influencia seu comportamento e de que forma este contribui para seu desenvolvimento. O ambiente deve ser um abrigo que protege e dá segurança contra agentes exteriores; filtra qualidade e número de contatos sociais; transmite cultura, valores e interesses pessoais; tem a função de proporcionar prazer e desenvolvimento, dependendo da disposição da pessoa no momento e das experiências que favorecem a aprendizagem de novas habilidades (MORVAL, 2007).

O psicólogo ambiental trabalha com a percepção ambiental, estudo do ambiente físico com sua dimensão social e aspectos funcionais, enfoque da inter-relação e inter-dependência pessoa-ambiente como conceitualmente distinto da ação isolada de seus componentes sobre o comportamento (visão bidirecional), flexibilidade no emprego de níveis variados de análise, variabilidade da escala espacial, escalas temporal e ambiental, conhecimento psicológico sobre o desenvolvimento humano, etc., ou seja, o profissional precisa de uma bagagem de instrumentos visto que a variedade de aspectos que devem ser considerados no estudo da interação pessoa-ambiente é muito extensa (PINHEIRO, 1997).

Alguns conceitos básicos são importantes na Psicologia Ambiental como: espaço pessoal que é o que rodeia o corpo do indivíduo, sendo este o responsável por controlar acesso de outros, é o espaço que dá origem as interações do dia a dia; regulação da intimidade é a manutenção de um nível ideal de contatos sociais, com relação ao tempo e circunstâncias; comportamento territorial é a quando a decoração do ambiente reflete a personalidade dos ocupantes e afirma um controle, indicando posição hierárquica e tempo de permanência; competência ambiental abrange satisfação e motivação pessoal diante de uma ação no meio ambiente; responsabilidade ecológica são comportamentos dos cidadãos que visam a manutenção do equilíbrio ecológico (MORVAL, 2007).

Existem três maneiras de funcionamento na psicologia ambiental que remetem a prática profissional segundo Moser (2005), a acadêmica que se preocupa com a sistematização dos conhecimentos referentes à relação indivíduo-ambiente; a ligada à demanda social, tendo um caráter de investigação, funciona na área de pesquisa aplicada; e uma engenharia sócio-ambiental, que é a parte da pesquisa orientada, preocupada em acompanhar as mudanças introduzidas. Sendo uma disciplina multimétodos e não tendo uma teoria específica em que possa se apoiar, possibilidades de ação deste profissional serão descritas a seguir.


Fonte: Psicologado - Artigos de Psicologia