Tales de Mileto

Filósofo Grego nascido e falecido em Mileto (624 a.C. - 546 a.C.)

Os gregos dos tempos posteriores consideravam Tales de Mileto como o fundador da ciência, da matemática e da filosofia grega, creditando-lhe a paternidade da maior parte do saber.

Supõe-se que Tales de Mileto nasceu de mãe fenícia, embora seja isto por alguns posto em dúvida. Talvez a lenda queira dizer apenas que ele foi educado segundo os padrões da ciência oriental. É certo que visitou o Egito e, provavelmente, a Babilônia. Talvez o que parece aos gregos uma multiplicidade de feitos nada mais fosse que o fruto da erudição dos povos mais antigos.

Por exemplo, a proeza que mais fortalece a sua reputação, de acordo com o relato citado um século e meio depois pelo historiador Heródoto, foi a predição feita por Tales de Mileto quanto a um eclipse do Sol, eclipse que, de fato, se registrou no ano para o qual estava previsto. (No instante de sua ocorrência, o fenômeno assustou os medos e os lídios, que se achavam prestes a entrar em luta, convencendo-os então das belezas da paz. As dua facções antagônicas firmaram um pacto, e seus respectivos exércitos voltaram para casa). Modernas investigações astronômicas atestaram que o único eclipse registrado na Ásia Menor ao tempo de Tales ocorreu a 28 de maio de 585 a.C., de modo que a frustrada batalha se converteu no primeiro acontecimento histórico capaz de ser datado com absoluta precisão.

Os feitos de Tales de Mileto não parecem de modo algum tão fantásticos se considerarmos que os babilônios lograram estabelecer sistemas para uma acurada predição de eclipses lunares pelo menos dois séculos antes. Em conseqüência, o talento do filósofo de Mileto em predizer o citado eclipse solar, fixando-lhe o ano antes de fazer o mesmo pra o dia, foi, quase certamente, adquirido no Oriente. Tales foi o primeiro grego a sustentar que a Lua brilhava devido ao reflexo da luz solar, e também isto terá sido um eco da erudição babilônica.

Tales de Mileto assenhoreou-se também da geometria egípcia, ainda que a tenha consideravelmente enriquecido. Além de convertê-la num estudo abstrato, foi ele o primeiro homem de que se tem notícia a considerá-la nos termos de uma prática informada pelo uso de linhas imaginárias de quase nenhuma espessura e perfeita exatidão, ao contrário das linhas utilizadas para a geometria de então, grossas e imperfeitas, riscadas sobre areia ou cera.

Tales parece haver sido também o primeiro a ocupar-se em esboçar seqüências regulares de argumentos para as relações matemáticas, ordenando tudo aquilo que já fora acumulado por seus predecessores e caminhando passo a passo em direção à sonhada prova final como inevitável conseqüência do que antes se expusera. Em outras palavras, criou ele a matemática dedutiva, que viria a ser sistematizada e ressuscitada dois séculos e meio depois por Euclides.

Certos teoremas geométricos específicos foram depois também a ele atribuídos; por exemplo, os de que o diâmetro de um circulo o divide em duas partes iguais, de que os ângulos verticais são idênticos e de que os ângulos da base de um triângulo isorcéles são também iguais.

Supõe-se também que Tales de Mileto tenha medido a altura de uma pirâmide egípcia por meio da comparação entre o comprimento da sombra de uma vara de tamanho conhecido, e que vem a simbolizar o próprio conceito básico da ciência da trigonometria.

No campo das ciências físicas, foi ele o primeiro a estudar o magnetismo. Mais importante ainda: foi o primeiro homem de que se tem lembrança ao qual propuseram a seguinte questão: “De que é feito o universo?”, e ele respondeu sem recorrer ao expediente da intervenção de deuses ou demônios.

Sua resposta, por assim dizer, foi a de que a substância primordial (o elemento, como hoje o designamos) do universo era a água, e a terra constituía apenas um disco chato que flutuava no oceano infinito. Essa resposta foi a mais razoável dentre quantas se chegaram a dar seu tempo, pois era claro que a vida prendia da existência da água.

Mas a pergunta, em si própria, era bem mais importante que a resposta, tanto assim que iria mobilizar o interesse dos demais filósofos que floresceram nessa mesma região, perto de Mileto, entre os quais Anaximandro, Anaxímenes e Heráclito, os quais muitos especularam sobre idêntico assunto. Foi essa a linha de pensamento que, afinal das contas, prevaleceu ao longo de dois mil anos de dolorosa batalha intelectual, até o advento da química moderna.

Avaliando a especulação filosófica em torno das aplicações práticas da ciência, pode-se dizer que Tales deu o tom de todo o pensamento grego dos tempos subsequentes.

Séculos depois, quando os gregos começaram a elaborar suas listas relativamente aos Sete Sábios da antigüidade, Tales de Mileto era considerado como o primeiro deles.