Psicologia Humanista

Surgimento da Psicologia Humanista

 

   No início da idade Moderna, o termo Humanismo (ideologia humanista) designou um movimento de ruptura com os ultrapassados valores medievais, cujo apogeu ocorreu durante o Renascimento oriundo na Itália quatrocentista. Houve uma grande ênfase ao estudo de atores clássicos greco-romanos, ao espírito de pesquisa e indagação e à valorização da observação. Essas características foram os pressupostos necessários ao desenvolvimento da ciência moderna, na medida em que refutavam as crenças religiosas, anunciando, assim, uma cisão definitiva com a igreja e com a filosofia elástica.

 

   O Antropocentrismo significou o deslocamento das atenções para o homem; ele agora passa a ser encarado como "o centro das preocupações" e essa foi mais uma marca da evolução do pensamento moderno, uma vez que, até então, vigorava o "teocentrismo " segundo o qual Deus ocupava o centro do Universo e tudo ocorria "por sua vontade" de modo que restaria ao homem voltar sua atenção para a fé, a religião e a vida após a morte. Perante todas estas argumentações, não haveria motivos para se alterar a ordem natural das coisas.

 

   A partir daí é possível perceber o que simbolizou o Renascimento, e em particular o Humanismo, para o desenvolvimento do pensamento moderno, a sua indiscutível importância na evolução da humanidade em termos gerais. Foi necessário que esse movimento ocorresse para que o homem fosse colocado no centro das preocupações e descobrisse que os acontecimentos não se davam "graças a Deus", mas graças às sua determinação em resolver os problemas que a vida lhe apresentava. Assim, conscientizou-se de sua capacidade de atuação e modificação da realidade, sedo livre e responsável pelas escolhas e alterações provocadas, despojando-se, portanto, do cômodo papel de agente passivo frente ao mundo.

 

   Embora o movimento renascentista tenha servido como pressuposto para o advento do naturalismo, em muitos aspectos a Psicologia Humanista denota semelhanças com ele, no que diz respeito a ter significado uma Revolução, em termos de pensamento, à sua época e, além disso, por sua teoria se identificar, e muito, com as ideologias humanistas e antropocêntricas.

 

   Neste sentido, podemos pensar que as propostas da Psicologia Humanista resgatam um pouco a concepção de homem abalada pelas "crises" geradas nas rápidas reformulações às quais a humanidade esteve exposta no decorrer da história, crises estas em que ocorreu uma virada radical quanto à compreensão do que seria o ser humano. A descoberta de Copérnico, no início di século XVI, de que a Terra não era o centro do universo, mas um simples ponto em sua imensidão; a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin, que data do século XIX, baseada no mecanismo de seleção natural; e, finalmente, a "descoberta" do inconsciente por Sigmund Freud, no início do século XX, acarretando a idéia de que o homem não é tão "dono de si” ou "poderoso",devendo reconhecer que muito de si está além de seu próprio controle,são idéias que convergem para refutar o pensamento desenvolvido em meados do século XVI, com o advento da Idade Moderna.

 

   A eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) destruiu as ingênuas esperanças dos que imaginavam que a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) acabaria de uma vez por todas com as guerras.Embora os Estados Unidos tenham emergido como uma grande potência econômica e bélica, ao término da guerra, o conflito entre ele e outra superpotência- então União Soviética- já era aberto. A partir daí, os países do mundo tedenriam a se alinhar como nações do "bloco socialista" e do bloco capitalista". O conceito "Guerra Fria",segundo o qual era necessário "conter a expansão do comunismo no mundo", passou a ser utilizado para designar o confronto e a competição entre EUA e URSS, que, devido ao perigo do uso de armas atômicas, deslocaram-se para o plano militar, ideológico, cultural, desportivo, diplomático, econômico e, sobretudo, tecnológico.

 

   A Psicologia Humanista americana Charlotte Buhler (in Greening, 1975) afirma ter sido esta situação de  constante tensão econômica, social e política vivida pelos povos de todo o mundo e, em particular, pelos americanos a responsável pelo surgimento de um estado de espírito novo, comparado com o tempo em que tudo o que as pessoas buscavam era a "diversão". Diz existir na época uma introversão antes desconhecida, um desespero absurdo. Psicólogos deste período, como Karen Horney (1885-1952) e Eric Fromm (1900-1980), questionavam a possibilidade de confiar nessa sociedade que constrói bombas atômicas para aniquilar populações. Dessa forma, esse momento propiciava aos jovens duvidarem dos valores e da moralidade tradicional. As descobertas científicas também propiciaram o surgimento de dúvidas a respeito de dogmas e pregações da Igreja, como a existência de Deus.

 

   Os sentimentos dos jovens e também as interrogações de adultos foram sacudidos e expressos em termos tais como: "Qual é o significado de tudo?", "Quem somos nós, quem sou eu?", "Qual o modo certo de viver?". A essas interrogações houve várias formas de reações, como uma facção da juventude que lutou por reformas. Segundo Bühler (in Greening, 1975), esse grupo possuía idéias e convicções definidas, as quais poderiam ser políticas ou girar em torno da liberdade e dos direitos humanos, e, nesta última versão, aproximava-se mais, ainda que através de programas irrealistas, da Filosofia Humanista. Bühler (in Grening, 1975) abordou ainda a importância de um outro grupo de jovens, os quais denominou "construtivos", na formação dos ideais da Psicologia Humanista, uma vez que estes viam a necessidade de aperfeiçoar as experiências pessoais e sociais, procurando ajuda nas pessoas mais velhas em que confiavam para encontrar valores e crenças mais profundas, a fim de liberar sua criatividade e expressar suas potencialidades.

 

   No início dos anos 60, no governo Kennedy, os Estados Unidos apresentavam-se em grande ascensão econômica devido às transformações sociais pós-guerra. Gomes (in Aquino, 1986) afirma que o advento da Psicologia Humanista não pode ser dissociado deste quadro de desenvolvimento, uma vez que foi este o responsável pelo surgimento de valores tais como independência, hedonismo, dissidência, tolerância, permissividade, auto-expressão, que cada vez mais reforçavam o clima de preocupação com o individual, em que o sujeito apresentava-se como centro das preocupações.
 
   Nota-se, portanto, que os trinta anos que antecederam o advento da Psicologia Humanista (1930-1960) foram anos marcados pela guerra, luta de poder, nos quais os homens eram para o governo apenas mais um dentro dos batalhões do exército, a morte era "a vizinha" sempre presente e muitas vezes infelizmente já esperada, em que não se sabia sobre o dia futuro (seremos vencedores ou vencidos, encontraremos mais miséria ou riquezas). Parecia não haver lugar para a esperança, uma nova chance ou mudança de vida, especificamente nos Estados Unidos, onde cada homem é apenas mais uma fonte de trabalho, que, se explorada, permitirá maior lucro ao opressor.

 

   A Psicologia Humanista surge então como uma forma de responder a anseios da sociedade, com concepções que garantem a possibilidade de transformação que dependa apenas da vontade individual, como uma forma de as pessoas conceberem-se como "EUS" e não apenas como mais uns, como diferentes, devendo assim ser tratadas. Ela retoma, resgata a individualidade, a subjetividade, as emoções próprias e particularidades de cada ser humano.

 

Psicologia Humanista

 

   O enfoque da psicanálise no inconsciente, e seu determinismo, e o enfoque na observação apenas do comportamento, pelo behaviorismo, foram as críticas mais fortes dos novos movimentos de Psicologia surgidos no meio do século XX. Na verdade o humanismo não é uma escola de pensamento, mas sim um aglomerado de diversas correntes teóricas. Em comum elas têm o enfoque humanizador do aparelho psíquico, em outras palavras elas focalizam no homem como detentor de liberdade, escolha, sempre no presente. Traz da filosofia fenomenológica existencial um extenso gabarito de idéias. Foi fundada por Abraham Maslow, porém a sua história começa muito tempo antes. A Gestalt foi agregada ao humanismo pela sua visão holística do homem, sendo importante campo da Psicologia, na forma de Gestalt-terapia. Mas foi Carl Rogers, um psicanalista americano, um dos maiores exponenciais da obra humanista. Ele, depois de anos a finco praticando psicanálise, notou que seu estilo de terapia se diferenciara muito da terapia psicanalítica. Ele utilizava outros métodos, como a fala livre, com poucas intervenções, e o aspecto do sentimento, tanto do paciente, como do terapeuta. Deu-se conta de que o paciente era detentor de seu tratamento, portanto não era passivo, como passa a idéia de paciente, denominando então este como cliente. Era a terapia centrada no cliente (ou na pessoa) Seus métodos foram usados nos mais vastos campos do conhecimento humano, como nas aulas centradas nos alunos, etc. Apresentou três conceitos, que seriam agregados posteriormente para toda a Psicologia. Estes eram a congruência (ser o que se sente, sem mentir para si e para os outros), a empatia (capacidade de sentir o que o outro quer dizer, e de entender seu sentimento), e a aceitação incondicional (aceitar o outro como este é, em seus defeitos, angústias, etc.).

 

As três condições para que o processo terapêutico avance:


Congruência, a primeira condição.


   Descobriu-se que a transformação pessoal é facilitada quando o terapeuta  é aquilo que é, e quando as suas relações  com o cliente  são autenticas, quando o terapeuta não utiliza mascaras  nem fachadas, exprimindo abertamente os sentimentos e as atitudes que nesse momento ocorrem.

 

   Para descrever esta postura terapêutica, utilizamos o termo “congruência” como uma habilidade do terapeuta.  O termo “congruência” quer significar que os sentimentos que o terapeuta  estiver experimentando são reais e validos para ele, que o terapeuta está consciente destes sentimentos, que os assume e que é capaz de comunicá-los.

 

   Poucas pessoas conseguem ser totalmente congruentes. Quando mais o terapeuta souber escutar, compreender, conscientizar-se e aceitar o que se passa dentro dele, quanto mais ele puder entender a complexidade que se passa dentro dele, mais “congruente“ ele será


   Podemos exemplificar isto, vamos a nos referir no que freqüentemente vemos nas propagandas da TV. Se torna evidente para nós, na maioria dos casos, que o tom de voz mostra-nos que o apresentador “finge”,mostrando algo que ele mesmo não sente . Este é um claro exemplo da incongruência do apresentador

 

   Por outro lado, todos nos conhecemos amigos, familiares, e pessoas nas quais confiamos plenamente,  porque elas são o que realmente são e não utilizam mascaras ou fachadas quando se  relacionam com os outros. As pesquisas no âmbito da terapia nos mostram que é esta atitude de congruência do terapeuta que  produz um bom resultado no crescimento do cliente.

 

Aceitação incondicional, segunda condição.

 

   Na mediada que oi terapeuta está experimentando uma atitude calorosa, receptiva,  positiva  e de aceitação para com quilo que está  no cliente, ele se torna um agente de mudança positiva nele. De forma alguma, queremos com isto dizer que o terapeuta deveria “concordar” com o cliente. O que queremos expressar aqui, é que ele  deveria estar pronto   para aceitar do cliente , seja o que  for que ele estiver sentindo nesse momento, seja medo, seja desagrado, seja confusão, seja prudência, seja orgulho,  sejam ódios, seja medo, seja amor , seja coragem , seja admiração.


 
   Queremos dizer, que se o terapeuta se preocupa  pelo seu cliente de uma forma não possessiva, que o aprecie, mas na sua totalidade que de uma forma condicional e que o aceite quando ele se volta por determinados caminhos, sem condená-lo quando ele percorre outros.
Trata-se aqui de um sentimento positivo que se exterioriza sem reservas, sem julgamentos, sem condições e sem apreciações. Designamos esta postura e esta atitude do terapeuta como “consideração positiva incondicional” Também aqui, as pesquisas no âmbito acadêmico demonstram que, quanto mais o terapeuta assume esta atitude, mais a terapia tem probabilidades de êxito

 

Empatia, terceiro elemento

 

   O terapeuta capta com precisão os sentimentos e os significados pessoais que o cliente está vivendo e comunica essa compreensão ao cliente. Se as pessoas são aceitas e consideradas, elas tendem a desenvolver uma atitude de maior consideração em relação a si mesma. Quando as pessoas são ouvidas de modo empático, isto lhes possibilita ouvir mais cuidadosamente o fluxo de suas experiências internas.

 

   A abordagem centrada no cliente baseia-se na confiança em todos os seres humanos e em todos os organismos. Pouco importa que o estímulo venha de dentro ou de fora, pouco importa que o ambiente seja favorável ou desfavorável. Em qualquer uma dessas condições, os comportamentos de um organismo estarão voltados para a sua manutenção, seu crescimento e sua reprodução. Essa é a própria natureza do processo que chamamos vida. A tendência realizadora pode, evidentemente, ser frustrada ou desvirtuada, mas não pode ser destruída sem que se destrua também o organismo. Esta tendência construtiva e poderosa é o alicerce da abordagem centrada na pessoa.


   O organismo em seu estado normal, busca a sua própria realização, a auto-regulação e a independência do controle externo. Quando consigo criar um fluído amniótico psicológico surge movimento para frente, de natureza construtiva. O substrato de toda a motivação é a tendência do organismo à auto-realização.