Platão

 

Vida e Obras de Platão

Platão nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos e abastados, de antiga e nobre família. Temperamento artístico e dialético - manifestação característica e suma do gênio grego - deu, na mocidade, livre curso ao seu talento poético, que o acompanhou durante a vida toda, manifestando-se na expressão estética de seus escritos; entretanto isto prejudicou sem dúvida a precisão e a ordem do seu pensamento, tanto assim que várias partes de suas obras não têm verdadeira importância e valor filosófico.

Aos vinte anos, Platão travou relação com Sócrates - mais velho do que ele quarenta anos - e teve oito anos do ensinamento e da amizade do mestre. Quando discípulo de Sócrates e ainda depois, Platão estudou também os maiores pré-socráticos. Depois da morte do mestre, Platão retirou-se com outros socráticos para junto de Euclides, em Mégara.

Visitou o Egito, a Itália meridional, a Sicília, onde conheceu Dionísio o Antigo. Caído, porém, na desgraça do tirano pela sua fraqueza, foi vendido como escravo. Libertado graças a um amigo, voltou a Atenas.

Em Atenas, pelo ano de 387, Platão fundava a sua célebre escola, que, dos jardins de Academo, onde surgiu, tomou o nome famoso de Academia. Mais para levantou um templo às Musas, que se tornou propriedade coletiva da escola e foi por ela conservada durante quase um milênio, até o tempo do imperador Justiniano.

Platão interessou-se vivamente pela política e pela filosofia política. Dedicou-se inteiramente à especulação metafísica, ao ensino filosófico e à redação de suas obras, atividade que não foi interrompida a não ser pela morte. Morreu o grande Platão em 348 ou 347 a.C., com oitenta anos de idade.

Platão é o primeiro filósofo antigo de quem possuímos as obras completas. A atividade literária de Platão abrange mais de cinqüenta anos da sua vida: desde a morte de Sócrates , até a sua morte. A parte mais importante da atividade literária de Platão é representada pelos diálogos - em três grupos principais, segundo certa ordem cronológica, lógica e formal, que representa a evolução do pensamento platônico, do socratismo ao aristotelismo.

 

O Pensamento de Platão: A Gnosiologia

Platão Em Platão a filosofia tem um fim prático, moral; é a grande ciência que resolve o problema da vida. Este fim prático realiza-se, no entanto, intelectualmente, através da especulação, do conhecimento da ciência. Mas conceptual, ao campo antropológico e moral - Platão estende tal indagação ao campo metafísico e cosmológico, isto é, a toda a realidade.

Este caráter íntimo, humano, religioso da filosofia, em Platão é tornado especialmente vivo, angustioso, pela viva sensibilidade do filósofo em face do universal vir à ser, nascer e perecer de todas as coisas; em face do mal, da desordem que se manifesta em especial no homem, onde o corpo é inimigo do espírito, o sentido se opõe ao intelecto, a paixão contrasta com a razão. Platão considera o espírito humano peregrino neste mundo e prisioneiro na caverna do corpo. Pensava que este deve transpor este mundo e libertar-se do corpo para realizar o seu fim, isto é, chegar à contemplação do inteligível, para o qual é atraído por um amor nostálgico, pelo Eros platônico.

Segundo Platão, o conhecimento humano divide-se em dois graus: o conhecimento sensível, e o conhecimento intelectual, que parte do primeiro conhecimento, mas que dele não se pode derivar. A diferença essencial entre eles, está nisto: o conhecimento sensível não sabe que o é, de onde pode passar o conhecimento diverso, cair no erro sem o saber; ao passo que o segundo, sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído, errôneo.

Platão parte do conhecimento empírico, sensível, para chegar ao conhecimento intelectual. A gnosiologia platônica, tem o caráter científico, filosófico. O conhecimento sensível deve ser superado pelo conhecimento conceptual. O conhecimento sensível não pode explicar o conhecimento intelectual, que tem por sua característica a universalidade, e ainda menos pode o conhecimento sensível explicar o dever ser, os valores de beleza, verdade e bondade, que estão efetivamente presentes no espírito humano, e se distinguem totalmente da fealdade, erro e mal-posição.

Platão não admite que da sensação se possa de algum modo tirar o conceito universal; diz que os conceitos são a priori, donde têm de ser tirados, e sustenta que as sensações correspondentes aos conceitos lhes constituem a ocasião para fazê-los reviver.
 

Teoria das Idéias de Platão

Platão aprofunda-lhe a teoria e procura determinar a relação entre o conceito e a realidade fazendo deste problema o ponto de partida da sua filosofia.

A ciência é objetiva; ao conhecimento certo deve corresponder a realidade. Pensa que deve existir um outro mundo de realidades, objetivamente dotadas dos mesmos atributos dos conceitos subjetivos que as representam. Estas realidades chamam-se Idéias. As idéias são realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de que as coisas visíveis são cópias imperfeitas. Assim a idéia de homem é que o homem abstrato perfeito e universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.

Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos inteligíveis, situado na esfera celeste. A certeza da sua existência funda-a Platão na necessidade de salvar o valor objetivo dos nossos conhecimentos. Tal a célebre teoria das idéias, alma de toda filosofia platônica.
 

A Metafísica de Platão

O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no mundo divino das idéias; e estas contrapõe-se a matéria obscura e incriada. Entre as idéias e a matéria estão o Demiurgo e o mundo, através de que desce das idéias à matéria aquilo de racionalidade que nesta matéria aparece.

O divino platônico é representado pela idéia do Bem, que está no vértice. A existência desse mundo ideal seria provada pela necessidade de estabelecer uma base ontológica, um objeto adequado ao conhecimento conceptual, que se impõe ao lado e acima do conhecimento sensível, para poder explicar verdadeiramente o conhecimento humano na sua efetiva realidade.

E, em geral, o mundo ideal é provado pela necessidade de justificar os valores, o dever ser, de que este nosso mundo imperfeito participa e a que aspira.

Visto serem as idéias conceitos personalizados, transferidos da ordem lógica à ontológica, terão conseqüentemente as características dos próprios conceitos: transcenderão a experiência, serão universais, imutáveis. Além disso, as idéias terão aquela mesma ordem lógica dos conceitos, que são ordenadas em sistema hierárquico, estando no vértice a idéia do Bem, que é papel da lógica real, ontológica, esclarecer.

Como a multiplicidade dos indivíduos é unificada nas idéias respectivas, assim a multiplicidade das idéias é unificada na idéia do Bem. Logo, a idéia do Bem, no sistema platônico, é a realidade suprema, donde dependem todas as demais idéias, e todos os valores (éticos, lógicos e estéticos) que se manifestam no mundo sensível; é o ser sem o qual não se explica o vir a ser.
 

O Mundo

O mundo material, o cosmos platônico, resulta da síntese de dois princípios opostos, as idéias e a matéria. O Demiurgo plasma o caos da matéria no modelo das idéias eternas. O mundo, pois, está entre o ser (idéia) e o não-ser (matéria), e é o devir ordenado, como o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não-saber, e é a opinião verdadeira.

Da idéia - ser, verdade, bondade, beleza - depende tudo quanto há de positivo, de racional no vir a ser da experiência. Da matéria - indeterminada, informe, mutável, irracional, passiva, espacial - depende, ao contrário, tudo que há de negativo na experiência.

Consoante a astronomia platônica, o mundo, o universo sensível, são esféricos. A terra está no centro, em forma de esfera e, ao redor, os astros, as estrelas e os planetas, cravados em esferas ou anéis rodantes, transparentes, explicando-se deste modo o movimento circular deles.

No seu conjunto, o mundo físico percorre uma grande evolução, um ciclo de dez mil anos, não no sentido do progresso, mas no da decadência, terminados os quais, chegado o grande ano do mundo, tudo recomeça de novo. É a clássica concepção grega do eterno retorno, conexa ao clássico dualismo grego, que domina também a grande concepção platônica.
 

Obras Utilizadas:

  • DURANT, Will, História da Filosofia - A Vida e as Idéias dos Grandes Filósofos. São Paulo: Editora Nacional, 1926.
  • FRANCA S. J., Padre Leonel, Noções de História da Filosofia.
  • PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís, História da Filosofia. 10 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1974.
  • VERGEZ, André e HUISMAN, Denis, História da Filosofia Ilustrada pelos Textos. 4 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1980.
  • Coleção Os Pensadores, Diálogos / Platão. 5 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991.
  • Coleção Os Pensadores, Defesa de Sócrates / Platão. Vol. II. São Paulo: Abril Cultural, agosto 1972.

Por: Kathleen Almeida